segunda-feira, 1 de março de 2010

BICICLETA

Eu nunca olhei bicicleta com bons olhos... Bom... nunca não, nem sempre foi assim...

Meu pai era um amante de ciclismo, e sempre me incentivava a andar em duas rodas, e eu confesso que gostava muito, ele me contava as suas aventuras em duas rodas quando era jovem, e eu via o brilho nos seus olhos, eu era apaixonado pelas histórias. A primeira bicicleta que andei foi a da minha irmã, ela já andava sem rodinha e queria me incentivar a andar sem também, mas ai eu tinha medo, claro! Então ela me disse vai pedalando que eu vou do seu lado segurando a bicicleta, ela disse para eu ir pedalando com toda minha força, ela ia correndo atrás segurando no banco da bicicleta, ela era minha segurança, mas então olhei para trás... Cadê minha irmã?????? então eu pedalava mais rápido com medo de cair.... e enfim aprendi a andar de "bestaquieta" (como costumava chamar)... Eu devia ter uns 6 anos.
Mas passaram os anos e queria ganhar minha própria bicicleta, eu já tinha 9 anos de idade, enchi o saco dos meus pais, até que todos meus amigos ganharam, minha mãe resolveu me dar também... então chegou o natal daquele ano, acho que foi o natal mais legal da minha vida, meu pai fechou a lanchonete no dia 24 de Dezembro e fomos todos para o Mappin (quem lembra do Mappin ?)... Eu queria uma BMX-Pantera, que era a bicicleta febre do momento, tinha uma plaquinha na frente tipo uma motocross... era a coqueluche da molecada... Mas chegando lá no Mappin havia acabado a tal da bicicleta, tinha um outro modelo que era a BMX-Carrera, era quase igual, só que mais cheia apetrechos, pintura diferente e mais cara... só que não tinha a "porra" da plaquinha na frente... com a numeração... eu com medo de meus pais mudarem de ideia disse que queria essa mesmo e nem toquei no assunto da placa... com medo de anularem a compra por acharem que não iria gostar... Compraram a minha sonhada bicicleta, só minha... na cor laranja... a bicicleta era totalmente laranja... até os pneus... Saímos da loja e eu tenho uma imagem gravada na minha cabeça que nem que se passe uma vida inteira vou me esquecer, meu pai carregando no ombro aquela caixona com minha bicicleta dentro no meio do povão, ali perto da Praça da República no centro de São Paulo... eu de mão dada com minha mãe atrás, olhando aquela cena e dávamos risada... Isso jamais vou me esquecer.
Chegamos em casa meu pai foi montar a minha bicicleta, mas meu pai era muito desajeitado com essas coisas, tivemos que chamar o vizinho, o Sr. Bernardo... Só que era dia 24 como falei, e eles tinham que preparar a ceia de natal, e dei uma volta na rua, mas tive que guarda-la porque iria toda a família para casa. Passou a noite de natal e eu louco para andar com minha "magrela" e nada, dormi com a bicicleta do lado da minha cama naquela noite e com a mão agarrado nela... Mas a história dessa bike poderia ter sido bem pior...
Passado + ou - 1 ano, a bicicleta se fosse carro já teria feito todas as revisões, porque eu andava muito com ela, para cima e para baixo o dia inteiro, chegava da escola pegava a bicicleta, só largava para jogar bola, e voltava para a bike... tentava o dia inteiro empinar a bicicleta (risos), umas das minhas maiores frustrações foi não aprender a andar com a roda da frente empinada...
Enfim, um belo dia a tal bicicleta quebra o freio e logo em seguida fura o pneu, era um sábado pela manhã, pedi dinheiro para minha mãe para ir consertar, e ela estava de saída para ir para lanchonete e cismou que queria que eu fosse junto... mas eu cheguei a teimar com ela que não queria (ela jurava de pé junto que teve uma premonição naquele momento) mas depois de muito insistir ela me deu uns trocados, e fui para o famoso japonês da rua de cima que consertava as bicicletas... uma bicicletaria que tinha por perto. Cheguei no tal lugar e o japonês me disse que o dinheiro que eu tinha ou dava para consertar o pneu, ou consertar o freio... Adivinha que uma criança de 9 anos consertaria para poder andar com a bicicleta? claro que o pneu, o freio eu brecava com o pé... e assim ele o fez, consertou o pneu furado. Peguei a bicicleta e fui embora, tinha uma ladeira bem íngreme que eu tinha que descer, e todas as outras vezes que eu tinha descido eu tentava sem apertar o freio, mas nunca havia conseguido, pois lógico a velocidade era muito alta. Mas na minha cabeça de jegue aquele dia, eu quis me auto desafiar, pensei que hoje não teria como eu brecar, então logo não me trairia... Até hoje não sei como tive essa ideia de asno. Para não pegar tanta velocidade eu desci até o meio da ladeira segurando a bicicleta... Quando chegou, respirei fundo (parecia que iria ganhar uma medalha olímpica por isso) e fui soltei... a bicicleta começou a tomar uma velocidade impressionante, eu comecei a me apavorar, porque não dava mais para segurar no pé, comecei a fazer uma curva para direita que tem na ladeira, já quase deitando a bicicleta, depois tinha que fazer outra curva para esquerda, mas... não consegui... fui reto... até onde lembro eu bati a roda da frente da bicicleta no portão de uma casa... apaguei... uma pancada imensa. Acordei sentado na guia da calçada, com a mão na boca e sangue para todo o lado... ai eu só lembro de flashes, eu pedindo para me levantarem e eu não conseguia ficar em pé, um monte de gente em volta me olhando, rostos conhecidos mas não conseguia lembrar o nome, eu perguntando onde estava minha bicicleta... Fui para o pronto socorro... Quebrei o pé, o nariz, luxação em vários lugares do corpo, meus dentes ficaram todos moles... Testemunhas dizem que bati no portão, depois fui jogado contra um poste e por fim bati em um muro... tipo um boneco sendo jogado de um lado para o outro.
Cheguei em casa parecia uma múmia todo enfaixado, e eu tinha que ir ainda para o hospital mas tinha que esperar meus pais chegarem da lanchonete... Meu pai havia recebido a ligação avisando do ocorrido, mas ele como era a tranquilidade em pessoa, não falou para a minha mãe... esperou fechar a lanchonete, e naquele dia tínhamos um casamento de uns amigos para ir... minha mãe no caminho para casa disse ao meu pai que tinham que comprar o presente, no que meu pai muito calmamente disse que achava que eles não iriam ao casamento, porque eu havia sofrido um grave acidente de bicicleta... Nossa!!! quase que tem outra tragédia aquele dia na família... minha mãe quase matou meu pai...(risos)
Chegaram meus pais, foi aquele drama quando minha mãe me viu, lembro muito desta cena também. Fomos para hospital, fiquei de observação... Então lembrei minha mãe que eu tinha atrapalhado ela, pois ela não iria assistir o último capitulo da novela que ela tanto gostava e que acompanhou desde o começo, que era a novela Roque Santeiro... Mas ela me disse que não tinha problema, que aquilo eram todos personagens de ficção e eu era a vida real dela...
Depois deste dia, do dia do tombo, sempre fiquei com medo quando minha mãe teimava que era para eu fazer alguma coisa, ou não fazer... as vezes fazia as coisas contra a vontade dela, só que ficava com c# na mão....

A visão sobre bicicletas na minha vida fizeram com que não gostasse muito delas...