terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

DOMINGOS


Minha Vó Alzira, Meu Avô Domingos, Crisitna (minha irmã) e eu
Não é do dia mais sossegado da semana que vou falar... o Domingo, vou falar aqui de um homem que de sossegado não tinha nada, um homem como não se faz mais como antigamente, cabra macho sim senhor.
Vô Domingos, pai de minha mãe. Veio para o Brasil tentar um golpe de sorte deixando 4 filhos e esposa em Portugal, para que assim que se estabelizasse no Brasil, mandava vir todos, e assim o fez depois de um tempo, e com muito custo bancou a passagem para que todos viessem de navio, que incluia esta que seria minha mãe.

E graças ao meu avô que meu pai conheceu a minha mãe. Meu avô trabalhava em uma destilaria de cachaça, gerenciava o mesmo,  e um dia meu avô andando na rua, foi parado por um jovem que pedia informação, meu avô percebendo que este jovem era português igual ele, e estava a pouco tempo no Brasil procurando emprego, ofereceu a ele de ir trabalhar na destilaria, este jovem veio a ser meu pai... Meu avô caiu na besteira de chamar meu pai para morar com eles... Bom ai a história todos sabemos. Meu pai casou com minha mãe e pronto.


Em pé: Tia Mirita, Tio Manuel, Minha mãe, Meu avô e Prima Elaine
Sentados: Tio Carlos, Meu pai, Vanessa (No carrinho) Primo Helton e minha irmã
Quem olhava meu avô nos últimos anos de vida, não imaginava a força física e de caráter que ele tinha. Umas das histórias mais me impressionaram entre várias que escutei do meu avô mostra como ele era.
Meus avós sempre tiveram comércio,  e tinham um barzinho na Vila Maria, Rua Arari Leite - meu avô na parte da tarde costumava descançar na casa deles que ficava no fundo do bar, e minha vó Alzira ficava tomando conta do bar, um dia apareceu um homem e começou a fazer graças para minha avó. E minha vó pedindo para ele ir embora que meu avô podia acordar... Mas o homem não levou a sério o negócio e continuou fazendo graça para minha avó, não deu outra... Meu avô escutou e veio correndo, pegou uma garrafa de cerveja vazia pelo gargalo quebrou o fundo dela no balcão do bar, e adivinhem?! enfiou na barriga do cara... Apareceram lá em casa de meus pais, os dois fugidos vô e vó, fecharam o bar... Até hoje não sei direito o que aconteceu com o homem que meu avô acertou, mas depois de um tempo meu avô voltou sua vida normal.

Lembro-me muito de minhas férias na casa dos meus avós, e meu avô sempre de manhã ia fazer compras no mercado velho da Vila Maria, e eu sempre ia com ele, porque nunca voltava de mãos vazias, ele sempre comprava algo para mim, ou um carrinho, um gibi, ou sei lá o que... mas sempre voltava com algo.


Minha Avó, Meu Avô, Prima Vanessa e Eu
Meu avô teve um declínio muito na vida com a morte da minha avó, aquela fortaleza toda foi se desmoronando e depois de uns anos ele teve um pequeno AVC que paralisou o lado direito dele. Mas aquela força era imensa ele ainda não ia se entregar. Como eu estava sem emprego, tinha acabado de sair do meu último emprego, fui convocado a ajudar meu avô nessa reabilitação, dormi com ele alguns dias no hospital, ajudando ele a ir no banheiro, se limpar, na época foram dias difíceis, mas tudo valeu a pena. Eu lembro do meu avô me mostrando que ele estava mexendo a perna, e assim foi... um dia ele mexia mais, depois já ficava em pé, meu pai comprou uma bengala para ele... ai ele já se levantava. Foram momentos de muita intimidade com ele, tive a oportunidade de conhecer de verdade esse homem tão inteligente, de uma garra, e de um humor extraordinário...  um humor negro.

Esse humor dele era muito ácido. Um amigo dele havia morrido, um amigo de muitos anos o Sr. Joaquim, e eu perguntei para meu vô se ele não ia no velório, e ele de pronto respondeu:
- Eu não!!! ele já não vai no meu...  (faz sentido, não!?)

Outra vez quando meu pai morreu, ele estava lá no cemitério com minha irmã, e ele sentado tristinho, e minha irmã viu umas velhinhas que estavam lá no cemitério, e para brincar com meu avô minha irmã disse:
- Olha vô... as senhoras que bonitas (apontando para as tais velhinhas) - e de pronto meu avô respondeu:
- Tas maluca? enterro tá caro...
A resposta era rápida, e sempre ácida... Tenho um pouco dele comigo, mas fico mais calado.

Os anos passaram e ele foi se definhando, definhando, e se tornou um velhinho magrinho, frágil, com a bengalinha e chapéuzinho na cabeça e no máximo dava uma voltinhas no quarteirão... até que ele descançou... Teve uma despedida calma e dormindo...
Foi eu  quem arrumou ele e trocou, eu fiz com muita honra, pois havia feito algumas vezes em vida, porque não ia fazer agora? Mas aprontei uma com meu avô... esqueci de colocar os sapatos nele, e só fui perceber quando o caixão já estava todo arrumado... Tinha que ser com ele!?...
Fiquei com peso na conciência por muito tempo, mas depois de ver que os ingleses enterram os seus sem sapatos me confortou, e o dia que eu partir peço que eu vá da mesma forma, sem sapatos... Ai fico de conciência limpa plenamente...

Com sapatos ou sem sapatos... esse foi um pouco do meu vôzinho... Deixou saudades...

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

CARONA

Bom... Para começar o ano de 2011 vou contar essa história que tem aquela máxima: Seria cômico se não fosse trágico!!!
Quando morei em Peruibe, eu tinha muito o costume de pegar carona, para ir para escola (quando perdia o ônibus), para ir ao centro da cidade ou fazer outra coisa, era normal de quem morava lá, era muito comum naqueles tempos, começo da década de 90, ficavamos na avenida principal fazendo aquele sinal caracteristico de quem pede carona. Peguei algumas vezes carona naquele tempo, até que um dia me aconteceu uma boa, que nunca mais na minha vida pedi carona.
Estava atrasado para ir para escola, naquela época eu estudava a noite, perto de onde é a prefeitura de Peruíbe, e fiquei na avenida esperando o ônibus, mas estava demorando muito e resolvi pedir carona. Ameacei pedir carona para um Chevette Azul que estava passando com um senhor dirigindo, mas achei que o ônibus estava vindo, e só fiquei na ameaça, e percebi que o senhor olhou bem nos meus olhos, mas foi embora. O ônibus passou e não era o meu, me arrependi de não ter pego, porque senti que o homem iría parar... mas enfim já tinha ido. Fiquei olhando para ver se arrumava uma carona ou se vinha meu ônibus, e para minha surpresa lá vem o Chevette Azul com o senhor de novo, que legal... ele percebeu que eu estava aflito para pegar o ônibus e não era o meu, quanta gentileza!!! pelo menos foi o que eu pensei na hora.
 Fiz o sinal e o homem parou, no que entrei no carro andou e ele perguntou:
-Você mora aqui?
- Sim... moro aqui nessa rua!! - Eu apontei para rua onde eu morava.
Mas ai começou uma bateria de perguntas, meu nome?, o que meu pai fazia? onde eu estudava? e etc... um monte de perguntas sobre minha vida, eu comecei a ficar com medo, mas o que poderia fazer, mais nada... Até que eu perguntei para ele:
- De onde você é? - e ele me respondeu uma coisa que preferia não ter escutado:
- Sou de São Paulo, mas estou indo para Registro, porque tenho um namoradinho lá...
-Hãã ??? - surpreso disse eu. De repente ele falou namoradinha né!?- pensei
-Sou de São Paulo, mas estou indo para Registro porque tenho um namoradinho lá... - repetiu.
Eu tinha entendido, mas queria não ter entendido, só fiquei pensado que me ferrei e de como iría sair ileso daquela situação, fiquei apavorado, mas me mative quieto, mas nada é tão ruim que não se pode piorar.
O homem pegou na minha mão, eu não sabia se gritava, se tentava dar um soco na cara dele, estava em uma ratoeira preso. Lembro-me muito bem dele mudando a marcha e segurando minha mão, ele olha para minha mão e diz:
- Você rói unha?
- Não... - respondo eu
- Não precisa cortar tão curtinha - disse ele.
Então ele falou algo que me deixou em apavoramento total:
-Sabe Luis, eu gostaria muito de ter um caso com você!
Eu já não falava mais nada, olhava pela avenida para ver se encontrava alguém conhecido, já estava chegando próximo do centro, mas não conseguia ver ninguém, realmente não sabia como iría sair daquela situação.
Ai ele começa a puxar minha mão para o lado dele e eu puxando minha mão de volta, parecia um cabo de guerra dentro do carro, e ele me perguntou:
-Posso te pegar hoje quando você sair da escola?
-Pode!!! Claro!!! - Eu disse que estudava em outra escola, o que eu queria era descer daquele carro. Quando chegou no centro de Peruíbe, eu disse:
-Olha vou ficar aqui! - era mentira porque ainda ia mais adiante, mas não queria que ele soubesse exatamente onde eu estudava e também queria descer daquele maldito carro.
Ai ele vira o carro em uma rua (que é a rua do cemitério de Peruíbe) e diz:
- Antes vamos conversar um pouquinho... 
Eu não tinha muita escolha, senti na pele "ou dá ou desce" o carro devia estar a uns 70 km por hora, abri a porta e me joguei para fora do carro, rolei, levantei e saí correndo todo esfolado (joelho, mão, canela) mancando e gritando:
- O CARA É VIADOOOO SOCORRO, SOCORRO...
As pessoas na rua não entendendo nada, ele acelerou o carro e sumiu, e eu não parava de correr e gritar, veio umas pessoas conversar comigo, e eu explicando a minha cagada...
 Enfim graças a Deus virou motivo de chacota e risos depois. O velho queria adentrar a parte posterior do meu reto... Eu hein!! nem pensar...