Uma Homenagem ao Meu Pai.
Faz alguns meses que meu pai morreu. Faz alguns meses sem meu companheiro e amigão. Faz alguns meses sem ouvir suas boas histórias, ele devia ser uma versão do Forrest Gump português. Faz alguns meses sem ter com quem conversar quando a Portuguesa ganha ou, como tem sido mais freqüente, é derrotada. E eu, que nunca havia sentido o baque de perder alguém, estou ainda me ajustando à vida sem norte. Meu pai, meu porto seguro, era um homem diferente. Entendia absolutamente nada de consertos domésticos (só de chuveiros), de carros (um pouco), de máquinas. Nunca vi meu pai bebendo água – e, verdade seja dita, nunca foi visto ingerindo algo que não fosse cerveja, café com leite ou vinho. Ele achava que havia tantas outras opções no mercado. Costumava se vestir de uma maneira que não chamasse a atenção, calça jeans e camiseta (por dentro da calça, é lógico) e de preferência sem nenhuma estampa. Meu pai, ambientalista de natureza, adorava pássaros, cachorros, coelhos a natureza em si, um admirador do Jacques Cousteu. Meu pai foi embora cedo demais porque fingia ignorar que o ser humano vive de corpo e mente. Vivia exclusivamente de sua cabeça e utilizava o corpo apenas ir ao estádio da Portuguesa e fazer compras para lanchonete, os lugares onde podia ser encontrado quando não estava em casa dormindo. Se fecho os olhos, consigo ver flashes de meu pai fazendo um carrinho de rolemã para mim, posso ver ele arrumando as brigas no Canindé e eu tendo que separar. Juntos, íamos ao Canindé em dia de Jogos da Lusa, ao Morumbi e Pacaembú quando o jogo era bom, passeávamos pelo centro velho de São Paulo, falávamos de política, de seleção, de olimpíadas. Dele, eu tenho o dedo polegar da mão direita (incrível, mais é verdade o outro da mão esquerda é igual da minha mãe), o amor pela Portuguesa, a mania de achar graça em tudo mesmo que não tenha graça, a paixão pela arte. Com ele, aprendi a gostar do Silvio Santos, Ayrton Senna, Maluf (nem tudo é perfeito) Vinho e tudo que venha de Portugal e incondicionalmente admirar qualquer um que torça pela Portuguesa. Meu pai, evidentemente, assim como qualquer outro, tinha um milhão de defeitos. Só não posso citá-los porque descobri que, quando alguém tão querido morre, enterra-se com o corpo toda e qualquer imperfeição d'alma. Mas, se me fosse dada a tão preciosa chance de dizer mais uma coisa para ele, uma só, eu diria obrigado. Obrigado por ter me acolhido, por ter me amado incondicionalmente, por ter me introduzido ao saxofone (embora nunca tenha assistido nenhuma apresentação minha), por ter me apresentado o Canindé, por ter me ajudado a atravessar a rua, por ter me entendido mesmo quando eu não me entendia, por fingir dar bola para minhas neuroses, por me ensinar a comer Bacalhau com Batatas. Agora, se pudesse dizer duas coisas, diria que Portugal ganhou do Brasil no Sábado por 2 x 1 . Como em 1966, essa história que meu pai deve ter me contado umas 3.000 vezes.
*A propósito 171 era número que meu pai era no Exército um orgulho para ele, ter servido o Exército Português.... e quantas histórias................., Hein......... Sr. Antonio Morais.............................
...Este texto escrevi em 2003 alguns meses depois do falecimento de meu pai, tentei descreve-lo para quem não o conheceu pudesse entender um pouco...
Faz alguns meses que meu pai morreu. Faz alguns meses sem meu companheiro e amigão. Faz alguns meses sem ouvir suas boas histórias, ele devia ser uma versão do Forrest Gump português. Faz alguns meses sem ter com quem conversar quando a Portuguesa ganha ou, como tem sido mais freqüente, é derrotada. E eu, que nunca havia sentido o baque de perder alguém, estou ainda me ajustando à vida sem norte. Meu pai, meu porto seguro, era um homem diferente. Entendia absolutamente nada de consertos domésticos (só de chuveiros), de carros (um pouco), de máquinas. Nunca vi meu pai bebendo água – e, verdade seja dita, nunca foi visto ingerindo algo que não fosse cerveja, café com leite ou vinho. Ele achava que havia tantas outras opções no mercado. Costumava se vestir de uma maneira que não chamasse a atenção, calça jeans e camiseta (por dentro da calça, é lógico) e de preferência sem nenhuma estampa. Meu pai, ambientalista de natureza, adorava pássaros, cachorros, coelhos a natureza em si, um admirador do Jacques Cousteu. Meu pai foi embora cedo demais porque fingia ignorar que o ser humano vive de corpo e mente. Vivia exclusivamente de sua cabeça e utilizava o corpo apenas ir ao estádio da Portuguesa e fazer compras para lanchonete, os lugares onde podia ser encontrado quando não estava em casa dormindo. Se fecho os olhos, consigo ver flashes de meu pai fazendo um carrinho de rolemã para mim, posso ver ele arrumando as brigas no Canindé e eu tendo que separar. Juntos, íamos ao Canindé em dia de Jogos da Lusa, ao Morumbi e Pacaembú quando o jogo era bom, passeávamos pelo centro velho de São Paulo, falávamos de política, de seleção, de olimpíadas. Dele, eu tenho o dedo polegar da mão direita (incrível, mais é verdade o outro da mão esquerda é igual da minha mãe), o amor pela Portuguesa, a mania de achar graça em tudo mesmo que não tenha graça, a paixão pela arte. Com ele, aprendi a gostar do Silvio Santos, Ayrton Senna, Maluf (nem tudo é perfeito) Vinho e tudo que venha de Portugal e incondicionalmente admirar qualquer um que torça pela Portuguesa. Meu pai, evidentemente, assim como qualquer outro, tinha um milhão de defeitos. Só não posso citá-los porque descobri que, quando alguém tão querido morre, enterra-se com o corpo toda e qualquer imperfeição d'alma. Mas, se me fosse dada a tão preciosa chance de dizer mais uma coisa para ele, uma só, eu diria obrigado. Obrigado por ter me acolhido, por ter me amado incondicionalmente, por ter me introduzido ao saxofone (embora nunca tenha assistido nenhuma apresentação minha), por ter me apresentado o Canindé, por ter me ajudado a atravessar a rua, por ter me entendido mesmo quando eu não me entendia, por fingir dar bola para minhas neuroses, por me ensinar a comer Bacalhau com Batatas. Agora, se pudesse dizer duas coisas, diria que Portugal ganhou do Brasil no Sábado por 2 x 1 . Como em 1966, essa história que meu pai deve ter me contado umas 3.000 vezes.
*A propósito 171 era número que meu pai era no Exército um orgulho para ele, ter servido o Exército Português.... e quantas histórias................., Hein......... Sr. Antonio Morais.............................
...Este texto escrevi em 2003 alguns meses depois do falecimento de meu pai, tentei descreve-lo para quem não o conheceu pudesse entender um pouco...
3 comentários:
Como não sentir saudades desta ilustre figura de nossas vidas. Um português muito macho sim senhor, que ja me deu vassourada na cara, me bateu ao invés de bater no segurança do canindé e que quase me bateu por te-lo dado um beijo no rosto, mesmo eu sendo afilhado dele. Uma homenagem mais que merecida que sempre se reservou ao direito de guardar todas as suas magoas para si sem chora-las para ninguém. BJO Saudades
Errata..
... mais que merecida ao homem que sempre...
Obrigado Toninho
Meu pai era meio doidão assim, mas era só tipo viu... rsss no fundo ele era muito sensível...
Ele gostava muito de vc...
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