sexta-feira, 30 de abril de 2010

SONHO DE PORTUGAL

Desde que eu era pequeno eu tinha uma terra de tudo perfeito, uma terra em que era só brincadeiras, uma terra dos sonhos.... um cantinho além mar chamado Portugal Isso foi que meu pai fez com minha cabeça, eu cresci assim... pensando que Portugal era uma terra de contos de fadas... a terra do nunca.

O sonho do meu pai era levar todos nós a Portugal (eu, minha mãe e irmã) conhecer a aldeia onde ele nasceu, conhecer o amado irmão dele, o nosso tio Horácio. Mas por acaso do destino nunca conseguimos realizar este sonho do meu pai, de irmos todos juntos... Meu pai tinha umas coisas muito engraçadas no meio destes sonhos, ele queria chegar lá de domingo e dizia que íamos jogando bola na rua quando chegássemos na aldeia dele (Podence) eu de um lado da rua e ele do outro, um tocando a bola para o outro, e ele ia chegar de óculos escuros pra que todos ficassem perguntando de quem se tratava, aquele louco que chegou na missa... aquele louco que queria ir no dia da festa de Santa Eufémia, quem era ele? quem era aquele sonhador?
Os sonhos dele foram moldando os meus sonhos, de tanto meu pai falar na minha orelha sobre Portugal, acabei tendo um amor incondicional pela terrinha. Quando cresci o meu sonho era levar meu pai a Portugal e jogarmos aquela bola de um lado para o outro da rua, dele me mostrar cada canto onde ele passou a sua juventude, mas também por um acaso do destino não consegui, meu pai faleceu, sem dúvida até hoje a minha maior frustração.

Cheguei a sonhar na minha infância que estava eu, minha irmã e minha mãe no avião, mas meu pai não, eu olhava na janela do avião e via meu pai dando "tchau" na cabeceira da pista quando o avião decolava... cheguei a pensar que se tratava de uma profecia, mas depois da morte da minha mãe acabou tudo.

Logo após a morte do meu pai em 2002 prometi a mim que iria a Portugal, iria cumprir o que ele falou, iria a todo custo, iria conhecer o irmão dele, iria a terra dele... quando os ventos me levaram para onde eu tinha que ir, dei entrada na passagem, comprei-a em 10 vezes pela Ibéria, estava marcada para ir Agosto/2005 para baratear eu tinha que fazer escala em Madrid na Espanha, eu comprei em Fevereiro do mesmo ano, imagina a minha angustia para aguardar até Agosto, mês que propositalmente comprei a passagem pois era a tal festa de Santa Eufêmia, eu queria fazer a vontade do meu pai.

Eu não contava os meses, eu contava os dias... contava as horas...
Bem, para encurtar estes meses de sofrimento, já estamos em Agosto... estou dentro do avião na pista, estou dentro do avião pegando embalo para decolar, eu olhando na janela. Imaginem a cena que me veio a cabeça? do meu pai dando "tchau" na cabeceira da pista...
Eu sozinho dentro daquele avião com pessoas estranhas, que não sabiam minha história, que não sabiam o motivo de eu estar ali, não sabiam porque aquele rapaz estava com lágrima nos olhos, com vontade de chorar de soluçar, mas engolindo tudo para ...

Todos os meus sonhos e de meu pai passando pela minha cabeça, tudo... das conversas que nunca terminaram, do irmão, da bola... tudo vindo como um filme na minha cabeça.

 Depois de 11 horas de voo, estou pousando no velho continente, Lisboa, onde meu primo Zé Horácio (filho do meu tio Horácio) me aguardava, fiz a escala, e lá estou eu, agora sim indo para terrinha. Passei todo este tempo desde que saí do Brasil sem dormir, a minha ansiedade não deixou eu piscar os olhos, mas o engraçado que me sentia como se tivesse dormido a noite inteira, estava super bem...
Até que escuto: -"Bom dia senhores passageiros, estamos prontos para pousar no aeroporto de Lisboa, o tempo é bom... e dentro de 5 minutos estaremos tocando o solo".
Então o avião pousa... ele pousou... desci na pista, a minha vontade era fazer como o Papa João Paulo 2° era me ajoelhar e beijar o chão... juro que pensei em fazer isso, mas ia ser um micão (risos) tive que me conter.
 Encontrei com meu primo, aqueles abraços, e por ele morar em Lisboa foi uma grande facilidade para mim, pois ele me deu hospedagem, ele e sua esposa a Paula. Fato que jamais vou esquecer nessa realização de um sonho, eu não tinha condições na época de arcar com despesas, eu mal tinha dinheiro suficiente para tudo, saí do Brasil com o dinheiro contadinho.

Fiquei uma semana em Lisboa conhecendo todos os lugares, sozinho caminhando pela cidade, pois meu primo estava trabalhando e não podia me acompanhar.
Conheci o Mosteiro dos Jerônimos, Torre de Belém, Monumento aos Descobridores, Chiado, Alfama, Mosteiro do Carmo, Castelo de São Jorge, Igreja de Santa Igrazia (Onde está sepultada a famosa cantora portuguesa Amália Rodrigues) comi os famosos Pastéis de Belém (os verdadeiros, pois aprendi que fora de Belém, os mesmo doces são chamados de Pastéis de Natas) tomei café onde o poeta Fernando Pessoa tomava seus cafézinhos que é o Café a Brasileira (inclusive tem uma estátua do mesmo no local, sentadinho ali vendo o movimento e pesando no próximo poema).
Estive também, ai sim com meu primo depois, no Palácio da Pena em Sintra e no Estádio da Luz campo do Benfica, e outros dois dias como ele estava a trabalho o acompanhei em vários lugares no Alentejo.
Foi assim uma realização, as vezes parava e pensava que aquilo era o que eu estava vivendo no momento e daqui a pouco tudo aquilo iria acabar, mas não queria que acabasse... mas não tem jeito né?!

Nesta mesma semana atravessei o rio Tejo de barco eu fui até Almada conhecer o meu querido amigo Antonio Gouveia, ele e sua esposa Idalina me levaram á um dos lugares mais impressionantes que conheci na vida, chama-se Cabo Espichel, fantástico!!
Um dia se alguém estiver pelas bandas de Portugal vão até lá, vale a pena pela vista... Eu volto ainda lá... com certeza.

Passado essa semana fantástica em Lisboa chegou a hora de ir para o norte de Portugal, Bragança e finalmente conhecer meu tio Horácio, e chegaríamos no final de semana da festa de Santa Eufémia.
Meu primo e eu fomos de carro, foram 400km de viagem, desta vez tive a impressão que foi muito rápido...
Chegamos a Macedo de Cavaleiros, que é o distrito da aldeia do meu pai. Em Macedo que é onde meu tio mora hoje em dia na casa de outro meu primo Tó Luis, então veio o momento do encontro.
Subi as escadas da casa do meu primo Antonio Luis, e pedi para que o Zé Horácio filmasse tudo dali pra frente, eu tinha levado uma filmadora que a minha madrinha havia me dado de presente.

Então, finalmente... estava lá meu tio Horácio parado na minha frente, estava ali, tão real, tão pertinho, olhando para mim e sorrindo... o abracei... forte, e as vezes parava para olhar se era ele mesmo, ele se emocionou também, e sei que ali nas lágrimas dele estava meu pai... aquele abraço era para meu pai também, certos momentos da vida de uma pessoa não tem dinheiro que pague, este foi um na minha vida... não tinha preço, não tinha tempo... passado, presente e futuro se misturaram ali em uma grande ciranda de emoções. Entrei na casa, depois desse primeiro momento, sentamos e ficamos olhando um para o outro e chorávamos, ele se levanta me mostra um retrato de sua esposa falecida (Minha tia Celina) e eu tinha carteira fotos da mãe e do pai dele, que meu pai havia deixado e eu guardei, mostrei a ele, o engraçado que fazíamos isto sem nenhuma palavra, não conversavamos, só nos olhavamos, e choravamos em silêncio... O que tínhamos para falar? os nossos corações que conversavam... Fazia 35 anos que ele não via meu pai, e eu estava ali representando o sonho do louco do meu pai.


No outro dia era a festa de Santa Eufémia, e eu estava lá cedinho em pé em frente a igreja (isto já em Podence na aldeia) eu e meu tio, para a procissão... a banda tocando, e cadê o sonhador de óculos e com a bola? ele não estava, não de corpo presente... mas dentro de mim, estava lá sorrindo e brincando comigo...
Nesta viagem estive também na aldeia de minha mãe, fui recebido como um rei lá... muito, muito carinho de todos os tios dela comigo... Chama-se Agua Revez que é sub distrito de Valpaços... Encontrei uma amiga de infância de minha mãe a Mariazinha, foi muito legal também...

Olha, esta viagem foi perfeita, ou quase... Faltou o cara que me ajudou a sonhar...

Mas meu sonho agora é que ainda vou jogar bola com meu filho lá em Podence, quando eu tiver este filho... eu de um lado da rua, e ele do outro... e chegar de óculos escuros na missa (claro!!)... Os sonhos tem que ser completos... Não é?! de filho do sonhador, para o próprio sonhador...


O que é a vida sem um sonho?